por Rau Ferreira
Corria
o ano de 1895. A Parahyba era governada pelo areiense Álvaro Lopes Machado,
época em que se cogitava a construção de uma estrada de ferro de Campina à
Mulungu que viria a ser administrada pela Great Western. Campina sentia a força
política de Christiano Lauritzen e demais comerciantes, que congregavam forças
em prol deste ideal. A estrada de ferro representaria o progresso e alavancaria
o comércio local, por se constituir principal veículo de escoação da produção
de grãos e algodão da região. Sob essa perspectiva, viria o laureado governante
à Campina angariar os frutos de sua administração.
Há
muito que o presidente projetara uma visita à cidade Rainha da Borborema,
aproveitando essa ocasião quando se encontrava instalado, com a sua distinta
família, na vila do Pilar, para onde se dirigiu com o intuito de gozar alguns
dias de repouso. As cogitações do momento político o fizeram desprezar o
descanso e partir para a tão desejada visita.
Reuniram-se
todos no dia 09 de julho, pelas seis horas no pátio da estalagem. Sua
excelência com esposa e filhos, fazia-se acompanhar do desembargador José
Peregrino, do chefe de polícia e ajudantes imediatos. A comitiva passou
primeiramente por Itabaiana, onde hes foi oferecido um laudo almoço
demorando-se o governante o resto do dia.
Seguindo
viagem, aportou em Campina Grande o Dr. Machado no dia 11 do corrente, às 7
horas da noite, seguindo para a casa do Tenente-coronel Frankin d’Oliveira que
ofertou um suntuoso jantar, merecendo o seguinte registro da imprensa:
“No centro da meza, que ostentava-se profusa em chrystaes e
porcellanas, contendo finos e escolhidos manjares, assim como generosos vinhos,
despertava a attenção dos convivas uma linda e artística torre Eiffel de cuja
grimpa pendiam as azas d’um custoso laço de fitas tendo a inscripção em grandes
lettras douradas: Viva o Dr. Alavaro Machado” (A União: 27/07/1895).
A
elite campinense compareceu ao concorrido banquete. No terraço tocava uma banda
de música, solenizando aquele momento. Incontáveis foram as girândolas,
anunciando a presença do governador da Parahyba. Na ocasião, surgiram brindes
entusiasmados ao Dr. Álvaro e ao desembargador, seguidos pelos animados
oferecimentos ao Coronel Lourenço Porto e ao Partido Republicano. Tomando da
palavra e levantando a taça, Lopes Machado dirigiu aos presentes as seguintes
palavras:
“Aproveito o momento para externar o meu sincero apreço e
dedicação leal ao amigo ausente, Desembargador Trindade, que tão dignamente
ocupa a cadeira de extremo advogado dos interesses da Parahyba, no Congresso
Federal, e peço desculpas de, na ocasião, descerrar as cortinas que abrigam no
santuário do lar doméstico, as vividas e carinhosas saudades do meigo e honrado
pai de família”
Na
sexta-feira (12), fez questão o Dr. Álvaro Lopes Machado de conhecer a feira de
gado campinense, em companhia de numerosos amigos, deslocando-se aos currais
recém construídos pela municipalidade.
Naquele
dia, contavam-se 1.300 bois que seriam negociados tanto para o abate, como para
a reprodução e cria. O comércio antecedia a feira semanal, que acontecia nos
sábados com “importante e bem sortida
feira de gêneros”. Nessa ocasião, faziam-se previsões da seguinte feita: “Não exageramos, dizendo, que o commercio de
Campina em puocos annos, depois de lá chegar a linha férrea, competirá com o
commercio da nossa Capital”.
Com
efeito, a feira de gado de Campina era “a
maior feira do gado para açougue do norte da republica”, apenas aproximando
em números à de Itabaiana. (Gazeta do Sertão: 14/03/1890).
A
prefeitura havia levado a cabo a construção de 25 currais, pretendendo fechar a
casa dos trinta. Eram compartimentos em forma de retângulos, cercado de grandes
torós de madeira de lei, tendo a testada de pedra e cal em cujo meio se
assentava um reforçado portão. Todos juntos, estavam separados por um outro
portão que recebiam o gado vindo da estrada do Seridó.
A
cada curral ocupado, era cobrado pelo município a taxa de três mil reis, de um
dia para o outro. Apesar de ser um tributo módico, era importante fonte de
receita municipal dado o grande número de animais que acorriam aquele
logradouro, constituindo abrigo seguro para a propriedade particular.
Demorando-se
um pouco naquele lugar, partiu sua excelência em visita ao prédio da Cadeia
Pública. O edifício – embora pequeno – era apropriado à clausula de seus
detentos e servia muito bem aos seus propósitos, dado o pequeno número de segregados.
Notando, porém, certa falta de limpeza, recomendou a pintura do edifício.
Naquela
mesma avenida, oportunamente, observou o Dr. Lopes o movimento de construção de
novas residências, notadamente na rua da Igreja do Rosário, onde se edificava
um quarteirão de oito a dez casas, além de uma escola pública em conclusão.
Criticas
foram dirigidas ao Cemitério. A sua localização era inapropriada. Circundava o
centro da cidade, próximo as ruas principais. Todavia, o governador foi
informado acerca do novo local de repouso das almas, sendo-lhe apontado o
cruzeiro ao longe da cidade.
Todo
aquele clima de cordialidade despertou no governador a ânsia de ver logo
inaugurada a estrada de ferro, motivada pela calorosa recepção campinense. Em
sua mensagem à Assembléia, mencionou o presidente parahybano:
“É de esperar que a Estrada de Ferro Central
da Parahyba seja incluída no Plano Geral
da Viação, que terá de ser approvado pelo Congresso Federal, devendo
prolongar-se além de Campina Grande (...). Os trabalhos do ramal de Mulungú à
Campina prosseguem de modo, que é de esperar a inauguração, até o fim do anno
corrente, do trecho compreendendo entre Mulungú e Alagoa Grande” (MS 1896).
Concluído
o passeio às dez horas, aproveitou o presidente para almoçar em casa do seu amigo
antes de prosseguir viagem de retorno.
Referência:
- MACHADO,
Álvaro Lopes. Mensagem à Assembléia Legislativa. 2ª Legislatura, 15 de
fevereiro. Imprensa Official. Parahyba do Norte: 1896.
- A UNIÃO,
Jornal. Ano III, N. 582. Edição de 21 de julho. Parahyba do Norte: 1895.
- A UNIÃO,
Jornal. Ano III, N. 587. Edição de 27 de julho. Parahyba do Norte: 1895.
- GAZETA DO
SERTÃO, Jornal. Ano III, N. 10. Edição de 14 de março. Campina Grande/PB: 1890.
- GAZETA DO
SERTÃO, Jornal. Ano IV, N. 16. Edição de 01 de maio. Campina Grande/PB: 1891
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