por Dayane Sobreira (*)
A década de setenta foi marcada pela volta de mulheres do exílio e pela consolidação de grupos feministas no Brasil. Foi quando se deu a formação de frentes de debate e a luta pela democracia no país. Muitas das mulheres exiladas tiveram contato com o feminismo estrangeiro, sendo responsável por redimensionar suas práticas, formando-as no movimento feminista.
Na Paraíba, no ano de 1979, fora fundado o primeiro grupo feminista do Estado. O Centro da Mulher de João Pessoa (que logo passou a se chamar Grupo Feminista Maria Mulher) surgiu no cerne da Universidade Federal da Paraíba – campus João Pessoa. De grande importância dentro do espaço acadêmico, apresentou repercussões na sociedade local e abriu leques para a posterior formação de grupos de estudos voltados à questão da mulher.
Nesse contexto ainda de vigência do regime militar instituído em 1964, vários/as professores/as de outras regiões do Brasil vieram trabalhar na Paraíba através da política de modernização do ensino superior do reitorado de Lynaldo Cavalcante. Desses/as, podemos citar Eleonora Menicucci de Oliveira, Ângela Maria Arruda e Paola Cappellin Giulianni, personagens intimamente ligadas à história do feminismo paraibano.
Na Campina Grande dos anos oitenta, além da abertura trazida pelos/as professores/as de fora para uma dimensão de lutas, associações de bairros, de mães e domésticas já existia uma ebulição de reinvindicação por direitos. Havia então, um clima propício à visibilidade que passou a ser dada à mulher e às suas questões. No ano de 1984, por exemplo, a cidade já sediava o III Congresso Nacional da Mulher Urbanitária. Embora não dimensionado à mulher das classes baixas, periféricas, esse seminário trouxe discussões do âmbito dos direitos trabalhistas e da saúde da mulher, a partir de conexões com grupos como o SOS Corpo, de Recife. O Correio da Paraíba a 01 de junho de 1984, apresentou o seguinte informativo:
Correio da Paraíba a 01 de junho de 1984 |
A realização do evento, então, representou muito em termos de projeção nacional e de visibilidade de uma “questão da mulher” a ponto dela ter sido trazida em uma programação que contou com participações nacionais e com a conexão entre várias entidades. Desse modo, havia um clima propício à organização de mulheres em grupos feministas de forma mais sistematizada. Foi quando surgiram dois grupos feministas na cidade: o Grupo de Mulheres de Campina Grande e o Grupo Raízes, nos anos de 1982 e 1984, respectivamente.
Criado por professoras da UFPB, que se estabeleceram em Campina Grande para alargar os quadros docentes da instituição, o Grupo de Mulheres de Campina Grande atuou ativamente nas periferias, com mulheres trabalhadoras rurais, domésticas, profissionais de saúde e com discussões dentro da Academia. Isso reverberou na criação do Grupo Raízes dentro da Universidade Regional do Nordeste (URNE), este criado por alunas do curso de Psicologia, por meio de influência direta e afetações de suas professoras. Somado às atividades já realizadas pelo Grupo de Mulheres, o Grupo Raízes atuou junto à comunidade Álvaro Gaudêncio (hoje Bairro das Malvinas) durante o processo de expansão da área, participando também do movimento de ocupação do bairro, com a colaboração dessas mulheres.
Aqui, se percebe uma aproximação dos grupos feministas na década de 80 com grupos de mulheres que lutavam por causas mais gerais, como o acesso à moradia, à saúde e a creches. Desse modo, essa atuação fez se estabelecer uma relação estrita entre os grupos feministas e as comunidades, permitindo uma interferência no social, fazendo emergir reelaborações das questões de gênero na cidade, sendo práticas dimensionadas também em âmbito nacional.
(*) Dayane Nascimento Sobreira
Licenciada em História pela UEPB
Mestranda em História pela UFPB
Currículo Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4330315J9
Para saber mais, ver: SOBREIRA, Dayane Nascimento. “Mulher bonita é a que luta”:
Nas tessituras do feminismo em Campina Grande (1982-1992).
74 f. Monografia. (Graduação em História).
Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande, 2014.
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