Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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Por Rau Ferreira



Vital Maria Gonçalves de Oliveira – Dom Vital – nasceu em Pernambuco em 1844. Eleito bispo de Olinda em 1872, o Capuchinho quando chegou ao Recife já encontrou certa instabilidade, pois o jornal A VERDADE publicara algumas “ofensas” ao clero. Diante dessa situação, ordenou uma exclusão branca, que consistia na recusa de celebrar missas para os maçons falecidos. Houve reação e resposta do Sr. Bispo, que publicou um artigo defendendo o dogma cristão. A disputa acirrada culminou com a publicação da “Carta Pastoral contra as ciladas da maçonaria”, proíbe a leitura daquele periódico e excomunga os franco maçons. A sua prisão pelo governo imperial provocou discórdias na província. Alguns padres levantaram a sua bandeira e a coroa foi obrigada a enfrentar aquela questão religiosa.

Em Campina, o Padre Calixto foi o mais exaltado. Em carta dirigida ao seu heróico prelado, datada de 18 de janeiro de 1874, profere o seguinte testemunho de adesão:

“Exm. e Revm. Sr. – Tive a infasta notícia da violenta, arbitrária e inesperada prisão de V. Ex. Revma., e cumprindo um dever de obediência, adhesão e lealdade, vou pelo presente dirigir um voto de profundo pesar à V. Ex. Revma. por tão sacrílego acto do governo deste paiz, que considerando só brasileiros e súbditos os maçons, persegue com inaudita crueldade a quase totalidade de seus súbditos, cart. App. Rom., esquecendo desta sorte o rigoroso dever de fazer manter a religião do Estado em prol de uma seita perversa e desenvolvendo por todos os meios uma terrível perseguição contra os ministros da Religião de Jesus Cristo.
Sim, Exm. e Revm. Sr., estamos certos e convencidos de que a nossa perseguição continuará com maior afan, porém devem estar certos os perseguidores de que não recuaremos. Marchamos intrépidos, guiados por V. Ex. Revma., único a quem obedecemos, e a quem reconhecemos como legítimo Prelado desta diocese, em frente dos catholicos, e daremos ao governo e ao mundo inteiro uma prova do que sabemos soffrer e morrer pela religião, e sustentar as prerrogativas e direitos de  V. Ex. Revma., e todo o sacerdote que assim não proceder é indigno do habito que veste e da posição que ocupa na egreja.
O que nos pode fazer o governo?
Tirar-nos a vida, sepultar-nos nos cárceres?
Faça-o, sacie a sua sede de ódio e vingança, porém, elle (governo) fique certo que teremos em toda parte a Constancia do martyr, a fé do confessor e a liberdade do verdadeiro ministro da religião para exprobar-lhe  a sua dureza e impenitência. Sinto dentro da minha alma, Exm. e Revm. Sr., não poder pessoalmente apresentar a V. Ex. Revma. este meu voto de pezar, pela distancia que nos separa, e peço humildemente a V. Ex. Revma. que o aceite como uma prova do meu amor e firmeza à Venerada pessoa de V. Ex. Revma.
Nesta freguezia continua com intensidade a lucta e não pretendo ceder, emquanto aqui estiver com vida. Pretende-se a minha prisão e processo por ter desobedecido à celebre decisão do governo n recurso, com o que me não imporio, pois estou firme, e só reconheço e obedeço (em matéria religiosa) às decisões da Egreja Catholica, Apostolica, Romana, de quem é legitimo e fiel sustentáculo V. Ex. Revma. 
Deus e Maria Santíssima dêm saúde perfeita e animo a V. Ex. Revma. 
Cidade de Campina Grande, 18 de janeiro de 1874. Ilm. Exm. e Revm. Sr. D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, muito digno Bispo desta diocese. – O Vigário, Callixto Corréa Nobrega”. 

Com visto, o Padre Calixto era bem radical nas suas ideias. Não obstante por em risco a própria vida, seguia na firme decisão de apoiar em tudo o Sr. Bispo desta Diocese. Com efeito, Campina era paróquia do prelado de Pernambuco de onde seguiam as ordens episcopais. Confessa ainda o vigário campinense, que nesta freguesia “continua a intensa lucta”, notadamente por sua firme oposição contra os maçons. Tal qual Frei Vital, o Padre Calixto também excomungou os maçons, expulsando-os da Igreja de N. S. da Conceição. Nessa luta trouxe para si o apoio do Padre Ibiapina que, arrependido depois volta a sua missão de caridade.

Como resultado desta insurreição, o Vigário Calixto foi preso e conduzido à Parahyba (atual João Pessoa) para ser julgado pelo Tribunal do Júri. O Padre Ibiapina, coadjutor do vigário campinense, sequer chega a ser denunciado. Seu nome já era mito tendo o governo recuado prudentemente. Defendeu-o Irineu Jóffily. 
Padre Calixto foi absolvido e permaneceu na direção de sua paróquia até a sua morte. Em que pese às teorias de Horácio de Almeida acerca da participação de Joffily, nada ficou comprovado.


Referência:
- ALMEIDA, Horácio de. D. Vital e a questão religiosa no Brasil. R.IHGB. Vol. 323. Abril/Junho de 1979. Departamento de Imprensa Nacional. Brasília: 1980.
- GUIMARÃES, Luiz Hugo. A Paraíba nos 500 Anos do Brasil. Anais do Ciclo de Debates do IHGP. GRÁFICA - SEC/DPG. João Pessoa/PB: 2000.
- O APÓSTOLO, Jornal. Ano IX, N° 30. Edição de 13 de março. Rio de Janeiro/RJ: 1874.
- OLIVOLA, Frei Felix (OFM). D. Vital: Um Grande Brasileiro. Edição da Imprensa Universitária. Recife/PE: 1967.

2 comentários

  1. Anônimo on 19 de maio de 2013 às 08:29

    Dom Vital na realidade era paraibano. Nasceu na cidade de Pedras de Fogo. Existe um artigo publicado na Revista do Instituto Historico e Geografico Paraibano sobre a sua naturalidade.

    Alberto Cavalcanti

     
  2. Alberto Nasiasene on 9 de janeiro de 2025 às 11:17

    Sou tataraneto do Vigário Calixto da Nóbrega. Sou profissional de história. O filho dele é meu bisavô e, paradoxalmente, foi grão mestre, grau 33, da maçonaria em João Pessoa. Talvez tenha sido por rebeldia e ressentimentos em relação ao pai que, oficialmente, chamava o filho de sobrinho, já que padres, em tese, deveriam ser celibatários.

    Mas era comum, naquele tempo, que padres tivessem filhos. Não foi caso isolado. Ele vivia, já que não podia casar, com uma prima e com ela teve meu bisavô. É estranho, mas sou tataraneto do Vigário Calixto da Nóbrega e historiador. Os papas pelo menos até o Concílio de Trento, também tinham filhos. Lucrécia e Cesar Bórgia são filhos do papa Alexandre VI. São os mais famosos. Cesar Bórgia foi transformado no Conde Valentino pelo próprio pai, que era papa e, portanto, governava os Estados papais. Maquiavel tinha grande admiração pelo conde Valentino e isso pode ser claramente lido no livro O Príncipe. O escritor José de Alencar também era filho de um padre, o senador Martiniano de Alencar.

     


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